Aqui está o que o poeta alemão Rilke tinha a dizer:
Às vezes um homem levanta-se depois do jantar
e caminha ao ar livre, e continua andando,
por causa de uma igreja que fica algures no Oriente.
Os seus filhos fazem benções sobre ele como se estivesse morto.
E outro homem, que permanece dentro da sua própria casa,
Fica lá, lavando os pratos e os copos,
Para que os seus filhos tenham que ir longe para o mundo
Para a mesma igreja que ele um dia esqueceu.
A igreja do Oriente é um símbolo da jornada interior, quando o homem está a viver a "vida examinada". Mesmo que um pai se possa preocupar com a busca espiritual durante um tempo, ele ficará sempre conectado, cumprindo as suas responsabilidades para com a família e com o filho. Não é uma partida literal para terras desconhecidas, mas sim uma separação necessária da segurança falsamente anunciada da maioria silenciosa e da amarga ilusão do golpe materialista chamado "Sonho Americano" (ou da Sociedade do Instantâneo).
Se um homem está vocacionado para se tornar nele próprio, terá de se aventurar rio acima e libertar-se da psicologia a jusante daqueles que habitam num coletivo sem mente, que são escravos do consumismo e da cultura de celebridades fúteis. Se um Filho não vê a vida do seu pai com alma, ele é pressionado a suportar o tremendo fardo da "vida não vivida" do pai. Apenas um pai que olhou profundamente para o espelho e reconheceu tanto o lado Claro quanto o Escuro da sua alma, pode ensinar o seu filho a individualizar-se e a encontrar o seu próprio caminho, não dependendo da aprovação e dos aplausos alheios. Se entretanto um pai não trilha o seu próprio caminho direcionado para a "igreja do oriente", ele acaba por atrapalhar a jornada do seu filho, já que ele não pode ensinar ou transmitir o que simplesmente não adquiriu.
Quando isso ocorre, o relacionamento entre a mãe e o filho adquire um peso extra. A maioria das mães ama os seus filhos, mas elas não podem iniciar os seus filhos em algo que não é da sua competência. Uma mãe acaba por ferir o seu filho tanto ao fazer muito ou ao fazer pouco. Um filho precisa de um pai para tirá-lo do complexo da materno. Se o leitor permitir que eu simplifique - um "complexo materno" num homem mantém-no aprisionado a dois estilos básicos de vida: Ou é excessivamente dependente, necessitado, pegajoso e venenosamente passivo-agressivo; Ou compensa a sua dependência com uma atitude machista, meramente controlada através da imposição do poder. Eu já analisei um número suficiente de machistas no meu escritório, que quando as suas esposas finalmente encontram forças para os deixar, descompensam totalmente entrando num longo colapso psicológico. Nem o homem passivo nem o homem movido pelo poder podem ser intimamente ligados à alma de uma mulher - um complexo materno faz com que o relacionamento de um homem não seja pessoal. Um filho precisa de obter essa compreensão através do seu pai.
Um pai também precisa de instruir o seu filho a trabalhar, como recuperar do fracasso, da adversidade e como tolerar a frustração retardando a gratificação imediata. Ele precisa de promover a jornada do seu filho desde casa até ao horizonte e ensiná-lo a arrancar um pedaço de terra por si mesmo, sendo responsável por tudo isso. Um pai precisa de dizer ao filho que é perfeitamente normal ter medo e, acima de tudo, amá-lo profundamente e aceitá-lo. Finalmente, um bom pai precisa de ensinar ao seu filho como compreender e ser cavalheiro para com as mulheres.
Se isso não for fornecido pelos nossos Pais, temos de aprender a ser os pais de nós próprios, ou a procurar por um mentor que esteja ligado à sabedoria dos antepassados e que saiba sobre o mundo das sombras, podendo essa sabedoria ser deveras útil. Tornar-se homem entre os homens, encontrar os nossos pares e compartilhar as nossas vidas com eles é essencial. Uma boa educação em história, filosofia e literatura pode proporcionar uma boa paternidade. Todas as grandes batalhas da vida são travadas dentro da alma. Quando espreitamos conscientemente na nossa paisagem psíquica interior, a terra dos complexos, medos, sonhos, aliados internos, demónios, abismos e sabedoria ... ocorre a cura.
P.S. The man who is brothers to all men cannot be defeated - O homem que é irmão de todos os homens não pode ser derrotado.
Peter Milhado é Doutorado em Psicologia e foi supervisionado no âmbito psicodinâmico, recebendo posteriormente formação em Psicologia Analítica na sociedade de Berlim.
Texto redigido por Peter Milhado, Phd., e adaptado por João Diogo Vedor, com a devida permissão e todos os direitos reservados ©
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