Vasco Calixto suspendeu a matrícula em Medicina e partiu para fazer voluntariado. Álvaro Leite trabalha a voar e corre em zonas inóspitas do Planeta. Telma Pedroso deixou a banca e faz bolos. Testar limites, pisar o risco, agarrar o desconhecido. Porquê?
Acompanhe a reportagem na íntegra no seguinte link:
Entrevista com os especialistas
Prof. Doutora Alice Ramos - Socióloga
João Diogo Vedor, M.S. - Psicólogo Clínico e da Saúde
Os contextos têm peso e condicionam escolhas. “A motivação para a mudança e a disponibilidade para sair da zona de conforto podem ser um traço de personalidade”, refere Alice Ramos, socióloga, doutorada em Ciências Sociais, coordenadora nacional do European Social Survey, estudo que mede padrões de comportamento, atitudes e crenças de populações em mais de 30 países. “Há uma predisposição individual, que pode ser um traço de personalidade, e há condições sociais que permitem que uma pessoa faça ou não faça determinada coisa”, sublinha.
O universalismo, por exemplo, o bem-estar do outro, explica o risco, o querer sair da zona de conforto. “Há quem se realize pessoalmente a seguir o valor do universalismo. Sair da pequena bolha para um mundo desconhecido onde se sente bem a trabalhar para o bem dos outros.” A estimulação é outro valor. “Fazer coisas novas, fazer coisas que desafiem.” Nem todos são iguais. “Há pessoas para quem a realização pessoal é manter-se na sua zona de conforto”, realça Alice Ramos. Sair do rumo implica escolhas que, por sua vez, surgem num contexto que pode ser ou não ser facilitador, seja profissional ou financeiro. Depende da personalidade.
“É necessário enquadrar os casos mediante o próprio temperamento das pessoas”, adianta João Vedor, psicólogo analítico. “Temos os conscienciosos e os adeptos da experiência. Os conscienciosos são conservadores, recatados na forma de agir, ponderados nas decisões, calculistas, que ascendem a altos estatutos da sociedade. As pessoas abertas à experiência precisam sempre de um desafio que os acometa a ir mais além na sua vida.” Por várias razões.
Os desafios compensam energias, ambientes de trabalho hostis, relações pessoais que deixaram de ser sólidas e se tornaram líquidas, vontades que batem dentro do peito. “Vivemos muito num limite da própria ditadura da felicidade, tudo tem de estar bem, vive-se sobre determinados padrões, exigem-se altos índices de sucesso laboral. E, por vezes, cria-se um escape de fuga da realidade em que se está inserido.” “Por vezes, é a perceção do mundo que arrasta para o desafio”, acrescenta o psicólogo. Assume-se o risco, tenta-se ir mais além do que aquilo que se conhece.
A fase da vida tem também o seu papel e poderá ou não condicionar o pisar o risco, sair da bolha, entrar num mundo que não se conhece. O jovem que entra no mercado laboral, que obedece às regras da sociedade para alcançar o seu lugar ao sol. O adulto que pára para pensar, que reequaciona quais são os valores que lhe importam, que quer romper com a ordem instituída e arriscar. Seja de que forma for: sair do emprego, experimentar o que sempre receou, questionar relações, ponderar sair do sofá e mudar de vida.
Segundo João Vedor, um dos fatores que leva as pessoas a abandonarem a zona de conforto é quando essa zona já não é confortável.
“A ordem instituída começa a ficar justa e tem de ser substituída e remendada pelo desafio de estar no desconhecido” João Vedor
O desconhecido deixa de ser desconhecido e começa a ser uma nova forma de estar na vida. Com tudo o que isso implica.
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