O feminino nunca se silenciou nem nunca esteve sozinho na sua demanda. Nunca ausente, provocou sempre a transformação necessária no ciclo da humanidade.
Um exemplo claro encontra-se simbolicamente representado no Gênesis, pois desde Eva que a mulher não tolera um homem "adormecido". Desta forma, Eva partilha o fruto da transformação com o Adão, o que o torna consciente de si mesmo. É daí que surgem as batalhas das sogras com as noras, que pretendem transformar o beta em alfa. É daí que o mulherengo abandona o poliamor para se amar a ele próprio e se descobrir como homem! A mulher que simboliza o caos, simboliza também o mundo novo, a oportunidade, a descoberta então, do homem, em si mesmo.
Outra verdade encontra-se na frase anterior, pois o feminino também se choca entre si e é nessa fricção que gera então o novo homem, mas também a nova mulher e isso acompanha a humanidade desde os seus primórdios, pois essa é também a sua função.
Só a sabedoria emocional do feminino nos poderá elevar na nossa condição humana. O feminino é a terra fértil de onde é gerado todo plano criativo, mas é também o caos que, derivado da sua complexidade, se dilacera paulatinamente quando não permeia a estrutura da logos. O homem que não respeite o feminino também não se respeita a si próprio, sendo claro na última afirmação a não exclusividade do feminino na mulher.
Aventurar-se na emoção é muitas vezes aprofundar-se na função do feminino. Algo que o tirano não tolera porque de forma inconsciente tenta rivalizar com os seus receios mais profundos. Por isso é que ao longo da jornada não foram só as mulheres que sofreram com a falta da expressão do feminino.
Um dia um cliente meu 'baby boomer' disse-me "Doutor quando eu tinha 11 anos fui mandado para as obras. No meio daquela carrinha, junto com todos aqueles homens másculos eu nem podia fechar os olhos pois estava logo a comer um cachaço para acordar". Estes são os homens que reprimem e desprezam a função do feminino em si, vivendo uma masculinidade sem parceiro, sem rota e sem a complementaridade necessária para o desenvolvimento da própria personalidade. Ou são também estes homens que em crise de meia idade ficam completamente melosos, dóceis, emotivos e extremamente românticos já que a energia ativa do masculino se torna débil, quebrando o dique deixando o fluxo do eros trazer à consciência a solidão e a falta do feminino e da sua companhia.
No meio destas pequenas apreciações clínicas compreendemos que muitas feridas são provocadas e que com elas algumas sequelas são manifestas no conflito da pós-modernidade.
A era contemporânea é uma era abundante em informação. Mas por ser abundante não quer dizer que seja rica, pois se levantarmos a tampa do esgoto também podemos encontrar muita m****. Não existe filtro que trate tamanha disparidade de informação e os argumentos, cada vez mais superficiais, não dão a solidez necessária para criar os pilares que regem a boa formação. A superficialidade da informação não cria uma boa formação cívica, nem uma boa formação interior, já que uma está dependente da outra.
Os canais que outrora se regiam pela diferenciação e eram vanguardistas pelo reforço do raciocínio crítico, são hoje banhados pela ideologia e a perversidade da agenda política. Os media são os masturbadores de todo o sensacionalismo desmedido de uma era afetada pela revolta que conduziu à histeria entre as várias polaridades que regem o sistema social.
Perdemos valores, perdemos o respeito. Alimentamos a ideia que somos mais empáticos, mas não somos capazes de realmente calçar o sapato de quem não se alinha no nosso próprio passo. O feminino é talvez tudo menos isso. Porque a inflexibilidade e a intransigência faz parte de um masculino ignóbil fechado em si mesmo.
Ainda espero que o feminino seja capaz de se libertar até das suas próprias amarras, porque o mundo sempre se fundou na sua função e só poderá continuar a desenvolver através da sua mudança.
Que o feminino permaneça no coração de todos nós e que ninguém menospreze o seu valor. Feliz dia das mulheres, portadoras principais deste elemento.
Autor João Ereiras Vedor
Dedicado a todas as mulheres que todos os dias lutam pelo verdadeiro 'empoderamento' sem deixar morrer o feminino.
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