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Do Céu à Psique: Do Meteoro e Medo Coletivo em Castro Daire aos OVNIs do Século Passado

Atualizado: 20 de mai.


Jung nos seus trabalhos recordava-nos que precisamos compreender o que está a acontecer agora no nosso mundo — a natureza crucial deste tempo de transição em que estamos a viver — para que possamos aproveitar as múltiplas oportunidades neste momento especial e desfrutar do seu "efeito curativo"

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João Ereiras Vedor 19/05/2024


Esta madrugada presenteou-nos com um dos fenómenos mais fascinantes da natureza. Uma bola de fogo rasgou o céu noturno, iluminando por breves momentos as trevas com o seu brilho espetacular. As redes sociais foram inundadas de vídeos que capturavam a passagem deste meteoro, um evento que rapidamente se tornou viral. Nuno Peixinho explicou à CNN que se tratava de um meteoro, “um bólide muito brilhante, conhecido em inglês como fireball”.

O que me prendeu a atenção nas várias publicações que foram partilhadas nas redes sociais não foi somente o trajeto luminoso do bólide no céu noturno, mas sim algumas reações de medo e suspense que algumas pessoas expressaram. À primeira vista, essas reações podem parecer exageradas. No entanto, como o Observador apurou: “A rocha espacial que coloriu de azul e verde o céu de Portugal e Espanha libertou-se de um cometa, incendiou-se ao entrar na atmosfera a uma velocidade de cerca de 161 mil quilómetros por hora a uma altitude de 122 quilómetros perto de Badajoz, percorreu depois cerca de 500 quilómetros num percurso para noroeste cruzando o nosso país e extinguiu-se a 54 quilómetros de altura, sobre o Atlântico, já acima do Porto. Neste longo trajeto rompeu-se em vários fragmentos, que tornaram esta bola de fogo ainda mais brilhante, mas nenhum deles caiu no solo”.


Imagem do Meteoro avistado no Norte de Portugal

Apesar desse relato, várias pessoas descreveram ter avistado o meteoro a sobrevoar uma zona próxima de antenas e ouviram um enorme estrondo, o que conduziu às buscas realizadas pelas autoridades e bombeiros na zona de Castro Daire. Este acontecimento fez-me lembrar dos relatos de alguns clientes sobre sonhos que têm tido recentemente. Inclusive, antigos clientes contactaram-me propositadamente para partilhar temas oníricos envolvendo conflitos bélicos adaptados à tecnologia e armamento do século XXI.

A combinação destes dois elementos trouxe à memória o honesto e diligente trabalho de Jung sobre os avistamentos de OVNIs em meados do século passado. É importante sublinhar que, no caso do evento do meteoro, há uma evidência clara, tanto visual quanto auditiva. Sabemos que, apesar de não ter colidido com a superfície, quando um meteoro entra na atmosfera terrestre, pode viajar a velocidades entre 39.600 km/h e 259.200 km/h. À medida que penetra nas camadas mais densas da atmosfera, o meteoro aquece devido à fricção com o ar, criando uma onda de choque. Esta onda de choque pode gerar um estrondo sónico, semelhante ao som produzido por um avião ao ultrapassar a velocidade do som. É por isso também que os caças e outros aviões militares supersónicos, estão proibidos de sobrevoar as cidades a certas velocidades, pois de outro modo o risco de danos seria elevado.

No entanto, as restantes experiências psicológicas podem ser elaborações de um medo inconsciente coletivo. Muitas pessoas relatam-me um receio sobre o possível rebentar de uma nova guerra mundial, exacerbado pelos avanços da Rússia sobre a Ucrânia, o crescente poder económico da China e os conflitos internos no Ocidente. Este medo iminente de uma nova ordem mundial não é recente, e gostaria de explorar isso através do incrível trabalho de Carl Jung sobre os OVNIs.

 

Os Discos Voadores e a Perspetiva de Jung: Um Olhar Psicológico

Em 1957, Carl Jung escrevia uma carta interessante a M. Esther Harding:

"Depois de ter cumprido a tarefa de escrever o artigo que era esperado de mim, entreguei-me à vã esperança de que, tendo alimentado o mundo dos homens com o meu artigo, o meu próprio inconsciente me pouparia, como fez durante cerca de três anos, poupando-me, nomeadamente, de novas ideias. Na verdade, nada novo de dentro aconteceu, como já aconteceu tantas vezes antes, mas alguém levantou a tampa de ferro que foi presa sobre a minha cabeça de fora para dentro e surgiu a pergunta: o que acha dos Discos Voadores? Esta é a coisa que me arrebatou assim que terminei o outro trabalho, e novamente a já assustadora pilha de cartas não respondidas e manuscritos não lidos cresceu. Desde então, tenho estado ocupado com esta nova missão. É muito aventureira e levou-me mais longe do que jamais esperei. Mas, por favor, mantenha esta notícia em segredo. Caso contrário, as pessoas terão ideias estranhas sobre a minha senilidade. Não sei por que essas coisas impopulares têm essa atração estranha para mim."

Curiosamente o seu interesse pelo fenómeno começou logo nos supostos primeiros avistamentos de OVNIs na Suécia e com as descrições dos “Foo Fighters” pelos aliados em 1945. A título de curiosidade, os "foo fighters" (não é referência à banda americana) referem-se a misteriosas luzes ou objetos voadores avistados por pilotos aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Esses fenómenos, muitas vezes descritos como bolas de luz brilhante, emergiram nos céus da Europa e do Pacífico e foram inicialmente considerados como possíveis armas secretas inimigas. No entanto, nunca foram encontradas explicações definitivas para essas aparições, levando a especulações sobre suas origens, incluindo hipóteses de atividades extraterrestres ou fenómenos atmosféricos desconhecidos. Um fenómeno semelhante ocorria na Suécia em 1946 e ficaram conhecidos como "ghost rockets" (foguetes fantasmas). Estes avistamentos envolveram centenas de relatos de objetos em forma de foguete ou míssil cruzando os céus suecos e de outros países escandinavos. Os "ghost rockets" frequentemente caíam em lagos, mas apesar das buscas intensivas, não foram encontradas evidências concretas sobre a sua origem. As teorias variavam desde testes secretos de mísseis soviéticos até fenómenos atmosféricos ou extraterrestres, mas nenhuma explicação definitiva foi alcançada.

Suposta figura dos Flo Fighters avistada em 1945

Jung estava profundamente ciente da importância do fenómeno dos OVNIs. Ele considerava essencial que os psicólogos, conscientes das suas responsabilidades, não fossem dissuadidos de examinar criticamente um fenómeno de massa como os OVNIs, uma vez que a aparente impossibilidade dos relatos dos OVNIs sugere ao senso comum que a explicação mais provável reside numa perturbação psíquica. E nesse aspecto parece felizmente que Jung não está sozinho, já que Stephen A. Dimond escrevia para o Psychology Today o seguinte:

“(...) é precisamente a natureza profundamente misteriosa e mítica dos OVNIs que, como os sonhos, os torna tão poderosos psicologicamente. Tal como acontece com todos os fenómenos naturais ou metafísicos, uma vez que a ciência disseca, analisa e explica mecanicamente esses mistérios, o seu poder numinoso, espiritual e potencialmente curador é amortecido ou perdido.”

Contudo, era precisamente a falta de evidência física, exceto por leituras de radar cuja precisão e validade eram questionáveis, que conduziu Jung a explorar as possíveis origens psíquicas do fenómeno. Se não existia evidência dessas coisas, qual seria o seu componente psíquico?

Segundo a psicologia analítica, um acontecimento que encontra ressonância em várias pessoas forma a estrutura de um mito e, consequentemente, rompe a natureza do arquétipo que cria a visão correspondente. Quando digo acontecimento, não me refiro a um acontecimento autêntico como ver de facto um OVNI. Refiro-me a hipóteses, potencialidades, aparências, etc.  A esse acontecimento que é ampliado num consensus gentium e aliado à energia arquetípica, Jung acrescenta uma terceira dimensão chamada a Sincronicidade. Segundo Carl Jung, a sincronicidade é o princípio de ocorrências significativas de coincidências que não têm uma relação causal direta, mas que estão ligadas por significado e refletem uma conexão entre o inconsciente coletivo e os eventos externos. Não é preciso avistarmos um OVNI para termos uma experiência de sincronicidade a invadir a nossa mente. Toda a gente já sentiu a experiência de ir comprar um carro que acham único na cidade. Contudo, depois de pensar em comprá-lo, sem sequer efetuar a sua compra, começam a verificar que o seu carro não é tão único assim.

Não obstante, o que interessava no fundo para Jung era perceber o que este fenómeno representa para a psique humana e não comentar acerca da sua factualidade.


Jung acreditava que

“tal objeto provoca, como nenhum outro, fantasias conscientes e inconscientes, sendo as primeiras responsáveis por conjecturas especulativas e puras fabricações, e as últimas fornecendo o pano de fundo mitológico inseparável dessas observações provocativas.”

O que veio primeiro, a galinha ou o ovo? Uma percepção primária foi seguida por fantasia, ou uma fantasia primária invadiu a mente consciente com ilusões e visões?

Para Jung, o fenómeno dos OVNIs era uma oportunidade dourada de ver como uma lenda é formada e como, num tempo escuro e difícil para a humanidade, surge um conto miraculoso de uma tentativa de intervenção por poderes ‘celestiais’ extraterrestres. Isto ocorre precisamente quando a fantasia humana está a considerar seriamente a possibilidade de viagens espaciais e de visitar ou até invadir outros planetas.

 

OVNIs e anos 50

Os anos 50 foram uma época tumultuosa. A Segunda Guerra Mundial tinha terminado, deixando grande parte da Europa num estado de devastação e exaustão. Antes que qualquer recuperação real começasse, ficou claro que o futuro seria marcado pela rivalidade entre o Ocidente e a União Soviética, na divisão que ficou conhecida como a “Guerra Fria”. As tensões emocionais estavam altas. Tanto a situação doméstica quanto a internacional pareciam apresentar ameaças de alto risco o tempo todo. O macartismo nos Estados Unidos levou ao que Jung chamou de “profundas e ansiosas apreensões” no público americano. A situação política global induziu medos e criou um mundo no qual Jung sentiu que poderíamos esperar todo o tipo de coisas estranhas, já que o nosso equilíbrio psíquico tinha sido alvo de algo problemático. Tal como escreve Kelley Bulkeley:

“Desde o tempo de Jung, a Guerra Fria terminou e os ocidentais têm pouco a temer do comunismo global. A ameaça de uma guerra nuclear que poderia acabar com a civilização permanece, mas já não preocupa as pessoas da mesma forma que há algumas décadas. Em vez disso, uma multitude de outros cenários apocalípticos assombra as horas de vigília das pessoas. Estes incluem catástrofes ambientais, guerra civil, colapso económico, controlo mental farmacológico, tomada de poder por robôs e tirania política sob uma ditadura maligna (por exemplo, fascistas, socialistas, racistas, teocratas e/ou neoliberais), para não mencionar uma pandemia global. Alcançámos extremos boschianos na nossa capacidade de conjurar cenários vividamente variados de destruição e ruína.”

Nesse sentido, incontestavelmente para Jung, o século XX foi uma era esquizofrénica, de mente dividida, um tempo de intelectualismos sem raízes caracterizados por fragmentação, confusão e perplexidade. Era um tempo em que as pessoas estavam inquietas, insatisfeitas e inseguras, e agora, sob as condições políticas modernas, naturalmente também com medo. Por isso Jung observou que “de facto, nos afastámos muito das certezas metafísicas da Idade Média, mas não tanto que o nosso histórico e contexto psicológico esteja vazio de toda a esperança metafísica.” A esperança metafísica da qual não podemos escapar “ativa um arquétipo que sempre expressou ordem, libertação, salvação e totalidade” de uma forma que é “característica do nosso tempo.” O OVNI era uma manifestação psicológica caraterística dos conflitos daquele tempo. Isso acontece porque os meados do século passado foram caraterizados por subestimação tosca da psique, gerando ansiedades e inseguranças generalizadas. O problema é que este primeiro quartil do século XXI não se tem apresentado como uma resposta mais adequada. De tal modo que os recentes conflitos globais, geopolíticos e ideológicos culminam muitas vezes num medo apocalítico. Talvez isso traduza os relatos de medo que algumas pessoas manifestaram na recente situação do meteoro.

 

A Realidade Psíquica dos OVNIs

Jung abordou a questão da realidade psíquica dos OVNIs com a certeza de que “a psique não é uma fantasia arbitrária; é um facto biológico sujeito às leis da vida”. Ele reconheceu que a psique tem a sua própria realidade peculiar, que não se comporta em todas as instâncias de acordo com as leis familiares da física: ela “relativiza” o espaço e o tempo, por exemplo, e aparece de maneiras que muitas vezes não são reconhecidas pela mente consciente. No fenómeno global dos OVNIs, Jung reconheceu essa emergência. Era um facto inegável que pessoas de todo o mundo estavam a relatar avistamentos de OVNIs. Algumas autoridades governamentais, como a Força Aérea dos EUA, responderam a esses rumores estabelecendo departamentos para investigar os relatos. Enquanto os militares e outros se concentravam em tentar determinar a realidade física dos OVNIs, Jung concentrava-se na realidade inegável dos próprios rumores e reconhecia o seu significado psíquico. Ele verificou que este fenómeno irrompeu entre várias culturas, diferentes pessoas, idades e géneros. Também verificou que as reações variavam entre o receio e o fascínio, mas que de qualquer forma todas as pessoas queriam acreditar convictamente na existência de tal possibilidade. Do ponto de vista racional é fácil desconstruir a ideia do OVNI para Jung “A sua intensificação numa visão e ilusão dos sentidos, no entanto, surge de uma excitação mais forte e, portanto, de uma fonte mais profunda.”. Essa fonte seria a manifestação do inconsciente colectivo. Isso ocorreria através de um fenómeno chamado projeção, ou seja a expulsão de um conteúdo subjetivo para um objeto externo ou na criação de uma fantasia. Visualizar fora aquilo que na verdade é a representação de algo interno. O "algo" aqui poderia ser o nosso “medo coletivo, mas não reconhecido, da morte,” um desejo inconsciente de salvação ou libertação das ansiedades da realidade externa, uma capacidade não reconhecida de integridade, ou a própria individuação. Nesse caso, segundo ainda Jung, as formas redondas, ovais ou cilíndricas dos OVNIs, seriam desenhos perfeitos de tais projeções. Tal como escreve Bulkeley:

“Com a mente consciente em tal condição combativa, o inconsciente coletivo forneceu o que Jung nomeou de símbolo arquetípico compensatório ou equilibrador: a mandala, uma imagem de totalidade e integração. Os símbolos da mandala são mais conhecidos do budismo, hinduísmo e outras religiões asiáticas, mas na sua essência arquetípica, aparecem em todas as culturas, geralmente como figuras redondas com uma variedade de complexidades geométricas, cromáticas e simbólicas. Jung disse que os OVNIs, qualquer que seja a sua realidade como visitantes de planetas alienígenas, têm o significado psicológico de mandalas, projetadas no céu acima de nós, dando-nos uma visão de união e totalidade transcendente. A integração que não conseguimos alcançar neste mundo é refletida de volta para nós como um potencial vivo vindo do maior reino do cosmos (ele próprio um símbolo do inconsciente coletivo). Como as pessoas do nosso tempo estão a lutar nessa tarefa psicológica essencial de se tornar um indivíduo integrado e plenamente realizado (o processo de "individuação"), o arquétipo da totalidade não pode ser reconhecido diretamente nas suas formas tradicionais.”

Nas palavras de Jung podemos encontrar a seguinte análise:

“é forçado a manifestar-se indiretamente sob a forma de projeções espontâneas. A imagem projetada então aparece como um fato ostensivamente físico independente da psique individual e da sua natureza. Noutras palavras, a totalidade arredondada da mandala torna-se uma nave espacial controlada por um ser inteligente.”

É claro que quem supostamente avista um OVNI nunca admitiria que estaria a elaborar este mecanismo. Essa é a natureza da projeção: é involuntária e inconsciente, uma resposta espontânea do inconsciente em relação ao conflito psíquico presente, dada a tendência da psique para procurar o equilíbrio, tais projeções seriam compensatórias. Ou seja, elas tentariam equilibrar os medos e ansiedades que as pessoas sentem, oferecendo uma experiência que fosse inspiradora, edificante e numinosa. O símbolo dos OVNIs é uma modernização de símbolos mais antigos, pois tal como Jung indica:

“Na situação ameaçadora do mundo de hoje, quando as pessoas estão a começar a perceber que tudo está em jogo, a fantasia criadora de projeções eleva-se além do reino das organizações e poderes terrenos para os céus, para o espaço interestelar, onde os governantes do destino humano, os deuses, outrora tinham a sua morada nos planetas.”

Apesar dessa modernização do símbolo, essa fantasia seria a expressão de um mito vivo. Por mito não consideramos algo que é necessariamente falso, já que o mito representa um dado importantíssimo para o estudo da mente humana. Para Jung os mitos representam os dados originais da mente pré-consciente.


Apesar da sua relutância perante a noção da fisicalidade dos OVNIs, remetendo sempre para a sua falta de conhecimento técnico para tais análises, em 1960 enquanto era entrevistado por Georg Gerster para a rádio Suiça, Jung considerou algumas das possíveis implicações se os OVNIs se revelassem de origem extraterrestre. Ele afirmou:

"Se a origem extraterrestre dos Discos Voadores fosse confirmada, isso provaria a existência de comunicação interplanetária inteligente. O que tal facto poderia significar para a humanidade é inimaginável. Mas não há dúvida de que nos encontraríamos na mesma situação crítica que as sociedades originais confrontadas com a manifestação de poder e dominância do homem branco. As rédeas do poder seriam arrancadas das nossas mãos e os voos elevados do nosso espírito teriam sido interrompidos e paralisados para sempre".

 

Reflexões Finais

A ler Jung aprendi que todo o fenómeno capaz de provocar expressões no ser humano, merece a devida atenção. Principalmente o fenómeno galvanizante de massas, pois talvez resida aí a anima mundi. Como refere Bulkeley:

“Por exemplo, podemos esperar o surgimento compensatório de símbolos arquetípicos de renovação e renascimento, de crescimento e revitalização, de um futuro renascimento coletivo. Podemos esperar ver mais expressões do arquétipo do trapaceiro, o agente lúdico do caos e da desordem que perturba tradições estabelecidas e, no entanto, também inspira nova criatividade e dinamismo cultural. Podemos ver aparições mais vigorosas e talvez até ameaçadoras do arquétipo da anima, desafiando o pensamento estreitamente androcentrista e os preconceitos patriarcais persistentemente duradouros em todos os aspetos da vida pessoal e coletiva. Parece quase certo que as ansiedades apocalípticas da era presente já estão a evocar respostas inconscientes de energia e simbolismo arquetípico em todas as nossas vidas. A grande questão é se as nossas mentes conscientes podem reconhecer essas expressões arquetípicas quando elas ocorrem e integrá-las numa perceção mais ampla e equilibrada de si—a um eu mais forte que possa agir de forma mais eficaz no mundo, alimentado pela energia da totalidade psicológica.”

Jung nos seus trabalhos recordava-nos que precisamos compreender o que está a acontecer agora no nosso mundo — a natureza crucial deste tempo de transição em que estamos a viver — para que possamos aproveitar as múltiplas oportunidades neste momento especial e desfrutar do seu "efeito curativo" da sua capacidade de nos mudar e fazer crescer em consciência acerca do nosso verdadeiro poder e habilidade.

Podemos usar as visões de OVNIs como indicações de realidades internas, de modo a retomar essas projeções que estamos a colocar "lá fora," na realidade física e no espaço sideral, e integrá-las no nosso "espaço interno". Jung sabia que temos tanto a capacidade quanto a necessidade de "alcançar uma nova base física e espiritual além do nosso mundo consciente atual" mas temos de cumprir com a escolha de o fazer.

Temos a sabedoria, a capacidade e o poder de permanecer livres, de nos tornarmos completos, de alcançar a individuação. Não precisamos procurar resgate de "seres estelares" ou olhar para os céus para a nossa salvação. Precisamos apenas olhar no espelho e fazer o nosso trabalho interior.

 

 

Bibliografia

Diamond, S. A. (2010, October 17). UFO's, close encounters, and the cry for meaning. Psychology Today. Retrieved from https://www.psychologytoday.com/intl/blog/evil-deeds/201010/ufos-close-encounters-and-the-cry-meaning

Jung, C. G. (1957). Letter to Esther Harding. In G. Adler & A. Jaffé (Eds.), C.G. Jung Letters, Volume 2: 1951-1961 (R. F. C. Hull, Trans.). Princeton University Press.

Jung, C. G. (1964). Collected Works of C.G. Jung, Volume 10: Civilization in Transition (R. F. C. Hull, Trans.). Princeton University Press. (Original work published 1931-1955)

Jung, C. G. (1969). Collected Works of C.G. Jung, Volume 11: Psychology and Religion: West and East (R. F. C. Hull, Trans.). Princeton University Press. (Original work published 1938-1940)

Bulkeley, K. (2020, December 7). Jung, flying saucers, and the anxieties of our time. Psychology Today. Retrieved from https://www.psychologytoday.com/intl/blog/dreaming-in-the-digital-age/202012/jung-flying-saucers-and-the-anxieties-our-time

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Autor: João Ereiras Vedor

Psicólogo Clínico e da Saúde

Especialista em Psicologia Analítica

Co-founder do Jungian Clinical Institute

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